ou
um Excerto sobre QF636
ou
História sem Amor com Final Triste
mas certamente não deixa de ser
uma profunda homenagem ao melhor texto de Noa Capelas
Era uma vez um conjunto de partículas, usualmente referenciado pelos professores pelo nome G.
O caótico conjunto de partículas G, embora detivesse razoável compreensão do mundo, vivia sua curta
existência de forma imprevisível e inconsequente. Convinha a G que vivesse com
retidão, tal qual outros aglomerados particulares de seu universo, mas ele ignorava os avisos dos outros conjuntos de partículas e
translacionava sem se importar com a exterminação.
Vendo isso, o nobre senhor das esferas – guardião da ordem
universal –, que nutria por G um carinho incomum, decidiu, por bem, definir um
conjunto de estados J que pusesse G na linha.
Pôs seu vasto conjunto de mãos a trabalhar e criou uma obra
de arte que batizou de J. O conjunto J era tão perfeito quanto o lorde se
permitia criar. Cada um dos seus estados tinha a medida certa, e cada um deles
simbolizava um aspecto ao qual G certamente iria se prender irreversivelmente.
Satisfeito com o conjunto J, o poderoso arquiteto decidiu pôr em ação seu plano
e amarrar o conjunto de partículas G aos estados J.
Uma vez que pousou os olhos sobre a sublime beleza de J, imediatamente
G foi acometido de um desejo profundo de ocupar J de várias formas.
G passava os picossegundos vibrando, rodopiando e
saltitando, só de imaginar todas as maneiras como era compatível com J. J
parecia ter sido feito sob medida para G.
E como G romantizava os momentos que passava se aventurando por entre J, entrelaçado aos níveis mais prazerosos daquela incrível distribuição!
Depois de muito fantasiar, G decidiu que queria se dedicar a
J sem exceção, de forma igual, indistinguível entre todas as formas possíveis.
G queria se distribuir, sem negligenciar absolutamente nenhuma porção de J que
fosse, deixando o mesmo número de partículas em cada estado.
No entanto, invejoso da felicidade instantânea de G, o juiz
supremo olhou com desprezo para sua recém-criada obra J, e decidiu que tornaria
a ocupação de J por G extremamente complexa.
G, que se julgava infinitamente energético, sentiu pela
primeira vez na vida o peso do cansaço, enquanto sua força era limitada pelo
determinístico criador.
O lorde mensurou atentamente a capacidade de G de atender a
J, e fez com que os aspectos mais profundos e sensacionais de J fossem
inacessíveis para alguém com os recursos e com a energia de G.
Não importa o quanto G se esforçasse, jamais alcançava as
porções mais incríveis de J. Quando, por um átimo, G conseguia popular, de
forma quase acidental, um surpreendente novo nível de J, era por pouquíssimos
instantes, e o feito passava quase despercebido.
Com o tempo, G foi perdendo suas energias, e só restaram a G
forças suficientes pra se concentrar nos níveis mais baixos de J, onde G descobriu
desprezo, tristeza e abandono. G passou a querer de desassociar de J, não
parecia mais correto que estivessem juntos, se qualquer agrupamento de G
causasse apenas desacordos entre G e J.
Um dia, G e J discutiram feio. J endureceu seu coração e G
esgotou todas as suas forças. Então, J pediu que G saísse de sua vida. Não
aguentava mais G tentando populá-la com sua força tão insignificante. G foi tomado de uma raiva súbita, e se inflamou de tal forma que forçosamente rompeu sua ligação com J.
Sem ter compreendido o processo da irreversível separação, obsevava J se distanciar com lágrimas nos olhos. Derrotado,
sob o pesado olhar do poderoso senhor do tempo, reuniu as poucas forças que lhe
restavam e entrou em repouso.
No zero absoluto.