sexta-feira, 19 de maio de 2017

Algo pra vocês lerem, sem carinho.

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e Sta. Ifigênia...

...?

Esse sábado foi dia de ir ao centro com meu pai. O que alguns encaram como uma chatice cotidiana, ou mais um problema pra resolver em dias aleatórios, para mim é uma grande aventura. Sim, eu confesso: do mesmo jeito que faz um garotinho de seis anos, eu fico atônito toda vez que eu penso em andar com meu pai pelo centro da cidade.

De algum modo, aquele caos maldito me fascina... Lá existe uma mistura de raças, tipos e idéias, tão intensa e confusa, que eu não seria capaz alocar duas pessoas lá em uma mesma categoria. Dos pilantras (com suas mesinhas desmontáveis da praça São Bento e no Viaduto Sta. Ifigênia, procurando algum distraído e crédulo transeunte, a fim de surrupiar alguns de seus momentos e talvez mais um pouco) aos policiais (chutando a mochila de um mendigo pela Julio Prestes afora), passando pelos hippies, pelos camelôs, pelos artistas incompreendidos e incompreensíveis, pelos Office-boys, pelos punks, pelos vendedores das lojas de Informática e aquele velho com o violão a tiracolo, uma pandeirola amarrada no pé e uma gaita na boca, diante de um chapéu com uma quantidade humilhante de moedas de tão pequeno valor.

Não me pergunte como sou capaz de amar um lugar tão estranho desses. Talvez me traga à memória tudo o que eu já aprendi sobre a grandiosidade da nossa cidade. São Paulo terra boa, São Paulo da Garoa... Os postes ricamente decorados das ruas, que já iluminaram saraus de grandes poetas e memoráveis bebedeiras, hoje servem de apoio a cartazes do tipo "Compra-se Ouro", "Compro Dólar", "Multas, Carteira Vencida?" e outra infinidade de coisas, que quase bloqueiam a fraca luz remanescente, que ilumina a noite solitária de um homem que fez da rua seu lar.

E o que imaginaria aquele rapaz de óculos escuros e camisa salmão - que me disse que me levaria a um cara que vende qualquer celular bem barato - se ele soubesse que a vendedora da loja ao lado tem uma queda secreta por ele? O que pensaria aquela chinesa do PenDrive que não sabia nem falar minha língua - mas não deixava escapar um centavo sequer dos seus produtos - se soubesse que assina na frente dos clientes recibos alegando que recebeu um salário três vezes maior que o valor que ela ganhou por esse mês todo? E que viria a pensar o garoto? Que viria a pensar o garoto que vende o PlayStation destravado e os cartuchos compatíveis HP, se ele tirasse o boné e olhasse pra cima, admirando o horizonte após a Galeria Pajé?
E que eles pensariam de mim e do meu pai, se olhassem pra nossa cara por cinco segundos e percebessem que estamos com o maior sorriso na cara, ele não sei por que, eu também às vezes não sei por que, mas acima de tudo porque sempre adoramos essa frieza humana envolvente que nos acaricia, vinda daqueles que não sabem que o sol saiu faz algumas horas, enquanto eles abriam as lojas, comiam um mixto quente na barraca da Jô ou tomavam um simples coado na padaria do Romeu.

Porque acima de tudo, o centro da cidade transpira humanidade. Porque as pessoas que estão lá não ligam nem um pouco que estão colando cartazes na casa centenária do Barão, porque precisam colar os cartazes, pra que estejam vivos no próximo mês, pra colar mais cartazes; porque cada novo cliente do garoto do PlayStation pode significar um almoço decente; porque o homem da camisa salmão só faz o que faz pelo prazer do esporte, já que não tinha nada melhor pra fazer com sua vida. E porque meu pai adora ouvir um “Pega Ladrão!” gritado a plenos pulmões na muvuca da 25, e é como se ele ganhasse na Mega-Sena... É... é bom pra caramba sair com ele, eu deveria fazer isso mais vezes... Sair de casa sem celular, tomar um café no Romeu e rir dos caras que caem no truque da empadinha. É, bichão, eu não troco esses fins-de-semana por nada...

“CDs, senhor? Software, Jogos, Windows?”
“Hoje não, grande. Deixa pra próxima...” 

Confissões de uma paixão besta, com um puhado de carinho

Deixa eu explicar um sisteminha aqui pra vocês, meia dúzia de caros leitores... Toda vez que eu colocar alguma coisinha em itálico antes dos textos, geralmente é um pseudo-comentário-aleatório, que pode ou não colaborar pra vida de vocês.

Tendo em vista o sucesso e os elogios do ultimo texto, tendo em vista o bajulador comentário de mamãe e superando o dilema entre “O primeiro foi bom demais, vou decepcioná-los” e “Puxa vida, que bom! Vou escrever mais”, eu escrevi uma coisinha que foge um pouco do estilo que vocês viram, mas eu achei igualmente interessante. Detalhe pras palavras “maldito” e “pseudo”: palavras pelas quais eu sinto um afeto imenso. Interessante mencionar que eu não sou comunista

Esse texto tem um proposital tom de auto-confissão, de piedade e de melancolia, e não reflete sobre nada muito valoroso. Tem um nível médio de digressões e coisa e tal, mas agora que eu confio em vocês, eu fiz esse com um punhado de carinho. Espero que as críticas sejam suportáveis.

Tem vezes que a gente se sente como quem foi morto ou partido ao meio...

...!

Peguei-me nesse deturpamento ridiculamente melancólico de um pedaço bom de um bom poema, tendo em vista as novidades e descobertas desse fim-de-semana fatídico, entre a noite do dia 27 e o dia 28 de setembro. O Sábado começara com uma qualidade memorável, com índices positivos e um gráfico crescente, que invejaria a bolsa de NY uns cinco anos atrás. Desde a manhã, até o comecinho da noite, tudo parecia amabilissimamente maravilhoso. Como de costume, à noite eu fui conversar com alguns amigos, disparei algumas palavras românticas e profundas, contei histórias de judeus, brinquei um pouco, ouvi algumas notícias e acabei fazendo uma lista de necessidades, que pode ser publicada aqui, de acordo com a vontade da contraparte dela.

Foi nesse mesmo dia maravilhoso que eu acabei caindo numa grande armadilha da vida. Como diziam alguns amigos, foi aí que eu Perdi. Pode ser que eu tenha esquecido de fazer o macete da vida infinita e da munição superpoderosa, mas o fato é que, quando dei por mim, havia um grande “Game Over” diante dos meus olhos. Repetindo pra endossar, eu Perdi. Perdi vergonhosamente, Perdi assustadoramente. Perdi tão feio que o cartucho fez “ploc!”, queimou dentro do console e os botõezinhos saltaram do controle.

Como todos vocês sabem, caros leitores, todo ser humano tem um paixãozinha intensazinha, doentiazinha, não? E a maioria delas é, confesso, um pouco platônica, mas a burrice da raça humana ainda não permite que a gente se toque disso, e pare de tentar concretizar esses sonhos malditos. E às vezes, tem alguma coisa entre você e a pessoa, quem sabe um romance infantil, ou só uma troca de elogios, danças e comentários felizes sobre bandas aleatórias, que pra gente significa já alguma grande coisa.

Pois bem. Justamente nessa inevitável noite, eu recebi aquela notícia que meu cérebro demorou a noite inteira para sintetizar. Finalmente, aconteceu provavelmente o que eu mais temia. A minha vila feliz com seus palácios e casinhas foi invadida por algum tipo de monstro, que fez pior do que destruir todo mundo: tirou dela toda a respiração e me deixou ileso, para que eu pudesse caminhar todo dia pelas suas alamedas sem vida, observando a expressão vazia dos corpos imóveis na rua e inspirando o ar sufocado de suas casas desertas, sem ninguém para com quem chorar meu lamento profundo. Vaguear sem rumo pelas suas ruelas tortuosas, ou correr sem olhar pra trás nas suas grandes avenidas: foi o que me sobrou, depois que eu descobri que meu amor (sim, eu reservei a mim esse direito e, com todo respeito, não me interessa se vocês acham isso certo ou não) tinha feito suas malas há tempos, deixando nada mais que memórias de fatos que não existiram, e momentos que não passam de pura invenção. Levou consigo um punhado de coisas que eu considerava importantes, e não deixou uma barrinha de chocolate pra eu me sentir artificialmente feliz por alguns momentos.

Resumindo, meu frágil coraçãozinho adolescente (“Ai, que bonitinho!”) tomou dois cruzados de direita. Um verdadeiro nocaute. E eu não sei se é por causa da minha irritante mania de pseudo-romantismo, mas foi extremamente dolorido, e as seqüelas podem ser permanentes. Provavelmente era isso que dizia a antiga praga chinesa: “Espero que tomes parte em momentos interessantes”. Pode ser que agora eu vá me tornar um mero objeto de estudo de especialistas castrados, ou quem sabe tocar minha vida daqui pra frente, tentando brincar de bola novamente nas praças da minha vilinha. Eu ainda não sei. O muro começou a cair pra segunda opção, mas a gravidade não vale nada, principalmente quando você é detestado por pessoas que entendem muito dela.

Highway to Heaven - Prologue

Acharam que eu chegara ao meu limite. Já tinham falado pra minha mãe que seria perda de tempo, que não iria resolver, até mesmo que eu não merecia tanto. Ela enfrentou a todos, numa atitude que eu chamaria de politicamente incorreta, antiética e egoísta. Ela permitiu uma transfusão, e outra três meses depois. Sofri algumas cirurgias, fiz vários raios-x do crânio. Vários. Tem gente que fala que eu exagero na história, mas putaqueopariu, eu tenho as chapas. E enquanto eu tava lá, entre uma dose de morfina e outra, ouvindo – ou não – as gotas de soro caindo, eu conversava com a memória do meu pai, entre lapsos de arrependimento e raras pontadas de alegria, dentro do quarto branco e frio do hospital...

Highway to heaven - Capítulo 1, Manual Prático de Direção

Em 1986 eu senti um carro pela primeira vez. Eu tinha dez anos na época, e era a primeira vez que eu tocava num carro, e, por Deus, como eu era fascinado por aqueles montes de metal que funcionavam juntos pra transportar cem vezes meu peso em cima de quatro rodas a setenta por hora. Meu vô tinha sua Brasília 77 e meu pai, um Opala enferrujado ano 68, onde ele me levava pro colégio e rebocava alguns carros por um extra. Nosso vizinho, que tinha uma certa grana, tinha uma caminhonete Rural que levava a esposa dele, a preta da casa e os cinco filhos, e um Corcel dos primeiros. E se você excluir um ou outro Fusca ou Brasília de coloração duvidosa, era só. Mas aí chegou aquele tal de Miller, do estrangeiro, e seu pai com um Maverick V6 automático, com motor de 110HP e um ronco de impor respeito. Ele tinha uma pintura preta, empossado em suas duas faixas brancas, que se uniam no imponente símbolo da Ford Motors. Uma primazia de carro, com tanta cera na capota, mas tanta cera, que você seria capaz de brincar de escorregador no capô daquele carro e se barbear no teto. Moravam duas casas pra cima na rua, um sobrado enorme, com grade, jardim e garagem, que comia as nossas casinhas coladinhas, nas quais nunca era a mesma pessoa que tinha o primeiro e o segundo andar.


Tudo começou a gente estava jogando bola um dia na rua, e a bola bateu sem querer no carro dele. E o pai dele veio puto de dentro de casa, tocou na minha casa e forçou meu pai a me mandar polir o carro. Só pelo maldito gosto do castigo, porque tinha tanta cera lá que a bola nem conseguiu riscar. Meu pai não fez absolutamente nada, a não ser me jogar de olho torto um balde e um paninho de polir. E lá fui eu, peguei a cera, e poli até escurecer. Cheguei em casa com os braços doídos. Meu pai veio conversar comigo.

“Moleque, o quê você pensa que ta fazendo?”
“Que foi pai?”
“Você sabe com quem tá se metendo?”
“Não, pai”
“...Porra. Entra em casa”
“Pai, eu queria ter um carro que nem o dele.”
“...”
“Que foi?”
“Filho, a gente não tem condição pra isso”
“Ah, às vezes vale a pena sonhar... sentir o vendo bater na cara por cima daquele motorzão no meio da estrada...”
“Pára de sonhar e vai dormir, que amanhã nós temos compromisso às4, e eu quero você acordado, vestido e de café tomado, me entendeu?”
“Sim senhor.”

E então meu pai me pegou às 4 da manhã do dia seguinte, me botou dentro do Opala, e dirigiu por uma hora até chegar no campo onde a gente jogava bola aos domingos pra dobrar os cruzeiros. Estava frio e um pouco escuro. Meu pai saiu do carro e caminhou uns 50 metros pra frente. Depois disso, me gritou, “Traz o carro pra cá”.

Eu girei a chave, puxei o afogador, dei a partida, exatamente como observava meu pai fazer. Um solavanco e o motor silenciou. “Denovo”. Por mais duas vezes, outros dois solavancos, e o motor parou totalmente. Ele então veio caminhando com cara de zangado até o carro, e eu esperei a surra.

Mas a surra não veio. Ele sentou no banco do carona, desengatou o carro, botou o cinto e começou a me explicar como tudo funcionava. Combustível, explosão, cilindro, embreagem, tanque, eixo. Me explicou o que era um carro de direção dianteira, um carro de direção traseira, um carro 4WD/AWD. Explicou o que era um eixo Cardã, como funcionava a transmissão, a embreagem, o que era torque e o significado dos HP do motor, o que significava um V6, um V8 e o que eram os malditos litros do motor, passou ao painel, me explicou a mecânica e do volante, a auto-elétrica, tudo desde o farol até o escapamento. Nunca tinha pisado numa faculdade (embora tenha terminado o Segundo Grau), mas mostrou-se o mais entendido professor de engenharia que eu já conheci.

Ele levou minha mão até o freio de mão e relaxou-o. Suavemente, ele girou a chave, puxou o afogador e deu a partida. Sem solavancos.“Não faça nada ainda”.

Ele disse, “Acelere um pouco. Sente o som do motor”. E eu ia apertar o acelerador, quando ele me disse pra ser calmo e sentir um pouco de cada vez. Um simples toque com a ponta dos dedos fez com que o motor Chevrolet de 80 cavalos cansados gritasse mais que chinês em briga de máfia.

“Paciência, meu filho... Relaxe o pé, vá com calma”

E eu tentei novamente. E ele roncou menos. “Engate a primeira”. Engatei, e o barulho continuou igual. “Agora, calmamente, você vai soltar a embreagem até sentir que ele tá andando”. E assim eu fiz. Com a mesma calma que aprendi a ter há cinco minutos, eu soltei o pedal. E quando o carro começou a sair do lugar levei um susto, mas um susto, que eu acabei soltando tudo de uma vez, e o carro deu um solavanco maior ainda. Meu pai entrou no pulo e saiu dele com a mesma expressão. Ele mandou que eu repetisse o processo sozinho, de uma vez. Eu desengatei o carro, puxei o freio de mão e desliguei. Em seguida, girei a chave no contato, puxei o afogador e dei a partida. Relaxei o freio de mão, engatei o carro e procurei o ponto certo do acelerador. Então, eu comecei a soltar a embreagem.

E o carro começou a andar. E o carro andou uns dez metros, quando meu pai mandou que eu soltasse totalmente a embreagem. Isso feito, comecei a apertar o acelerador. E o motor gritava. E meu pai dizia, “Filho, passa a segunda, vai!” e eu assim fiz. Eu e meu pai demos três voltas no campo de futebol, já eram sete da manhã, e fomos voltando pra casa. E eu passsei o caminho inteiro olhando pro céu azul aparentemente imóvel, enquanto meu pai trocava as marchas suavemente na estrada de terra que me levaria de volta à nossa casinha.
Oh Hellish God (?), como eu adoraria chegar ao fim disso sem ser chichetoso e paga-pausozo. Fuck. Já comecei com 3 clichês: falar em inglês, terminar as coisas com “–oso” e contar clichês. Shit. Vai ser um loongo texto, mas enfim.... Já que estamos fazendo aquele grande clichê, que é o post de retrospectiva/boas vibrações/análise psicológica/that’s all folks, eu acredito que vocês possam esperar.

Eu planejava postar antes do Natal, mas aí eu ganhei um dia a mais em Sampa, onde há computadores, folk rock parecido com metal melódico e internet banda-larga, e decido postar isso hoje =].

Ah, isso vai ser longo, porque é um graaaaande mapa mental que eu fiz pensando e escrevendo. Não se sintam obrigados a ler, ok? Mas é um jeito d’eu me adequar à moda dos posts de fim-de-ano. E se acharem que eu devo tirar alguma parte que concerne a vocês, por favor avisem, ok?

Falando nisso, obrigado pelos comentários bonitinhos pro Highway to Heaven... Vocês são os caras... Embora esse não seja o intuito dele, é mais uma força pra ajudar a reconquistar a confiança de vocês por causa da psicologia =]. I Love you all, dudes


Mais um ano chegou ao fim...
WHADDHAFUCK! Que clichê medonhoso!

(...)

Ok, vamos tentar denovo.

“A gente precisava de um monte de coisas,
A gente arrumou algumas,
Mas ainda falta um monte delas.
Quer saber?
A gente precisa
De tudo,
Mas no fundo no fundo,
Só temos a gente, infelizmente.
Ou felizmente, quem sabe.
“Porque tudo seria pior sem amigos.”

-William Zoid, aproveitando um excerto de coisa falada por Mim e Nöa Capelas.


2008 foi um ano que segundo as palavras do Bina teve um gráfico BEM crescente. Vamos fazer uma retrospectiva mais ou menos por cima, da qual eu me arrependerei daqui a algumas horas. Eu comecei o ano resignado por ter feito chapinha no cabelo, triste por causa de um fora astronômico e brigando com uma galera no Rio de Janeiro. Parece-me um balanço ruim... aí do nada, a escola vem e salva minha vida. Nerd? Nops, nops. São as pequenas coisas, meus amigos, que fazem o gráfico da vida subir. Coisas às vezes BEM aleatórias, mas whatever. Continuemos, vamos à parte em que as coisas começam a melhorar.


Cheguei em São Paulo, e havia aqui Meyre, Guilherme e uma galerinha, e havia também Marina, sim, porque ela é uma parte importante de tudo isso, eu acredito que vocês saibam o porquê (não, tudo bem, ela não lê isso, e eu não sou tão bom com códigos quanto outros amigos ;] ). E a vida pareceu bela por um instante, no meio das merdas que eu fiz. Aí eu chego no ejapa e passo um conjunto inteiro sentado do lado de um guitarrista, falando de Beatles, de riffs legais e deixando ele derramar punk rock no meu ouvido. Whatever, foi um dos pontos mais altos do conjunto na escola.

Foi também nesse conjunto que eu descobri aquele que foi o ponto mais alto provavelmente da minha vida escolar. O nome da coisa era Grupo Vocal Etapa. O que no começo era somente uma judia loira bonitinha e feliz que gostava de Wave, uma garota inteligente e tocadora de violão que ouvia Ana Carolina e Mallu Magalhães, uma pequenina de cabelo ondulado com camisetas engraçadas, dois caras do terceiro que usavam preto, ambos com cabelos interessantemente grandes, que tocavam blues, faziam solos de guitarras e ouviam Raul, um tocador de teclado tímido que tem mais camisetas com frases que Jesus, uma professora animada e mais outros que não descreverei pra evitar a fadiga, acabou se tornando a minha terceira família. Yeah. A terceira, porque a segunda logo logo virá, acalmem-se.

Aí o segundo conjunto chegou, e com ele alguns rostinhos amigos se foram, e alguns rostinhos detestáveis também. E eu passei o segundo conjunto do lado de dois dos meus grandes amigos, atualmente. Passei o segundo conjunto irritando uma das criaturas mais irritantes que eu conheço, a Bia. Oh God, como ela era irritante. Hoje em dia ela pseudo-namora um cara, mas eu ainda acho que ela dá um homem mio que ele. Vai entender. “As cartas de amor também funcionam”... Veio a Gincana Etapa, e eu me apresentei junto com o grupo vocal. Lembro que eu cantei deploravelmente, e pensei que iam me mandar embora. Mas não mandaram. No final teve abracinho em grupo, e foi very happy =]. Acredito que seja só isso.

Aí vieram as férias, e lá vem mais Marina. E aí alguma coisa deu errado no meio do caminho, mas tudo bem. Afinal, a vida é bela. Até o fim das férias houve uma quedinha bizarra no gráfico, mas eu fui ao home studio de um amigão do peito, “vashcahíno” apaixonado, saí com uma galera, e tive a grande honra de aprender pandeiro do cara que pra mim supera Dinho, Naná e quem mais quiser: meu tio “Craudio”. Mestre dos pandeiros e dos repentes, ele é capaz de xingar sua família inteira em 5 compassos 2/4 em 200BPM. That’s quite a lot, folks. Por fim, meu gráfico saiu das férias do mesmo jeito que entrou. Adelante!

3º conjunto. Nessa época, eu compartilhava fossas, na verdade eu mais ouvia que falava, mas esse é o tipo de amigo necessário, pra que tudo não acabe com os dois se afogando em suco de laranja (“eu sou de menor né moço!”). Eu comecei a sair pra almoçar com o Nöa e o Bina, ouvia o Brönha de manhã e pseudo-tocava com o Negão no meio das aulas em que nós passamos na mesma sala. Foi nesse conjunto também que eu conheci o Dinha. O Dinha era um cara com rosto de criança, que eu tinha visto por aí umas 3 vezes tocando guitarra, e se apresentou pra mim em toda sua exuberância de cabelo enrolado, com uma camiseta que celebrava o dia internacional do sexo. Eu nunca me esqueço dessa (Virgem!) =]. Mas vamos em frente. Rachamos hambúrgueres e Coca-Cola, e estávamos bêbados a ponto de começarmos a falar, e falar, e no final foi muito foda. São bizarras as ocasiões em que as pessoas se conhecem. O Bina eu conheci no 2º do 1º, eu era o único cara que ia marcar ele no handebol. O Bronha, que era Fausto, sentava no A com os caras da última sala, tomando Yakult. O Negão tava na minha sala, e me dava o soco das 10 horas todo dia. E o Nöa eu conheci num trabalho com a Paula (Olha, a Paula). Oh god, que traumático foi aquilo. Naquela época ela era tão cabeça-dura quanto hoje em dia, mas ela ainda não tinha pegado o Kuratomi (ops, mal ae Kura =P).

Nesse conjunto foi também que eu comecei a falar com a Laís, com a Clarissa, e pensar que eu falava com a Ana, Eu acredito que isso seja um balanço BEM positivo. Além disso, eu comecei a participar ativamente de sessões do descarrego comunitárias, e por algum motivo eu sempre achava que na ausência do Bina, eu era aquele psicólogo chato que fica balançando a cabeça. Desisti da psicanálise, na teoria antes mesmo de querê-la, mas guardei uma coisa ou outra que vale a pena. Fui iniciado na fina arte de beber cocas e coquinhas, sempre o pretexto mais saboroso e barato para uma conversa decente. Foi um aumento significativo nos pontos do gráfico.

E aí chegou o último conjunto, e eu já tinha me infiltrado numa coisa da qual eu percebi que não ia conseguir sair. Acompanhei uma ida ao Bronha, outra ao Nego, outra ao Bina. Acompanhei gincana, Etapa Jam (Pablo Mode On/Off), Provas Fodinais e sobrevivi. Brindei à insanidade com três litros de coca e cinco amigos que eu tinha finalmente conquistado. Zé nas alturas e coca na Terra.

FUVEST. Fomos todos, sem pestanejar. Depois da dor, a glória. Fechei o ano com um show no SESC, pra 100 pessoas, que provavelmente significou pra mim mais que um megashow qualquer no Morumbi ou no Maracanã lotados. Listas bizarras, Top 10 Xises aleatórios, Frases colocadas. Aos cinco que chegaram, e também aos alguns outros que já são velhos de guerra, Much o’ fery tankyo forr yu.

Agora, eu vou pro rio. Mas não tem problema não, porque eu volto. E pra terminar de maneira extremamente clichetosa, vamos a uma estrofezinha feita, que junto com o Hexacampeonato do São Paulo, meu time de coração, a que do Vasco, pra tristeza do povo dos Três Rios, o churras do Bina e minhas danças, mais todo esse mapa mental aqui fizeram de 2008 um anaço. E ano que vem tem mais. Até lá (falta pouco), um beijo no coração pra todos vocês, Bless Your Hearts =].

Libertango e excesso de pontuação

Olá gente, como vão? Espero que estejam bem. Esse texto novo foge totalmente do meu estilo de sempre, mas é pra dar uma desencanada em algumas coisas que eu andei pensando. Esse e o irmãozinho dele, que virá logo. Eu pensei bastante na Amanda quando eu escrevi. Planejo dançar um tango com ela. O texto foi escrito de uma maneira bem egoísta, ou seja, provavelmente você não vão entendê-lo da maneira desejada, mas, afinal, que escritor (que pretensão!) tem seus textos entendidos exatamente da maneiar que os imaginou? (Bah, então não publica!). Bem, eu li essa semana que, uma vez escrito, texto não é mais seu, mas sim pertence a cada leitor. Não, Bina, a psicologia não volta =]. De todos os significados possíveis, os mais eidentes são os que não me agradam, mas tuuudo bem. Vocês são espertos. Bless Your Hearts.
Introdução

Violinos e Violoncelo a 2 tempos. Paletó folgado, sem pingos na testa. Sem chapéu. Copo de Old-Fashioned na mão, duplo, o gelo está derretendo. No canto inverso, a estrela da noite. Entra o accordeon a 4 tempos. Não mais que 80 batidas. O brilho intenso do salão dá lugar a uma fraca luz fúcsia. Um estudo naturalmente masculino, uma olhar, um desvio. O copo se foi. Cheio, naturalmente. Sai o violino, pausa para destaque do accordeon. A estrela chega à pista com seu brilho pálido. O Paletó ensaia um desabotoar, desnecessário. Pausa para a exibição da estela. Cadeira de madeira, espartilho e vestido pretos. Cabelos, cabelos, pescoço, esquerda, direita. No chão, esvoaça o vestido que mais revela do que esconde seu corpo exuberante. Frase de piano, tão imprópria no momento quanto o primeiro passo dele na pista. Uma pausa, improvisada. Um lapso. Um retorno. A cadeira sai de cena tão cadeira quanto entrou. Duas voltas, três compassos. Encarando-a como presa, encarando-o como caçador. Olhar fixo, pés firmes. Abrazo. Sente a mão dele na sua cintura, a perna se erguendo em reconhecimento. “Agora é por sua conta, me impressione”. Volta o violino.

Exibição

Dançam como se não necessitassem de mãos. Olhares fixos, conduzindo o grande espetáculo da noite. Os concorrentes, embasbacados pela estrela, esquecem as outras pequenas, enquanto nelas cresce o fogo do desejo por ele. La Base, a preliminar. Ela provoca, ele firma as mãos. Ocho Atrás, movimentos largos das pernas, belas pernas. Ocho Adelante, a coragem de avançar. La base com rasca. Inversión. Ele busca o corpo dela, afastado por um passo indeciso. Sua vez. Media Luna e Chicoteadas. O pé proposital para a queda dela nos braços dele. Caido Repentino, contra-atacado com amargura. Deboche. Ocho atrás, ele gostou das pernas. Ochos em Espejo, um florim proposital e clichetoso, mas bem executado. Ao fundo, cresce o piano

Ataque

Ao som do piano, ele entra com Tijeras sucessivas. Uma velocidade estonteante, enquanto a bela não escapa de se entregar a um momento de falso êxtase em seus braços. É hora do contra-ataque, e ela ensaia sem marca um Ocho Atrás. 1, 2, 3, 4, entra La Guitarra, e passa a Presto, bem na hora em que um repentino e não planejado pé dele ali se encaixa. El Sanguchito. Ela está encurralada, entregue aos caprichos de terminar o passo dele.

Desespero

Com a mesma intensidade na qual se espalhou o sádico sorriso, a estrela se vê puxada a um canto, entre Medias-Lunas e Traspies. Sube y Baja, Não há saída. Uma tentativa de separação, um novo puxão entre duas piruetas, e uma nova tentativa de se desvencilhar. Sem sucesso, aceita sua condição e busca o amor do homem que a levou a tal estado. Redução de andamento, a luz diminui. Destaque para o Violoncelo e o tom meloso da Guitarra, agora sozinhos, egoístas para um piano oportunista, agudo porém imperceptível.

Amparo

Fora de si, ela deixa-se levar pelas hábeis mãos. Passos largos, chicoteadas lentas. Voleos sensuais, propositadamente abertos e demorados, para que ele exiba seu prêmio aos outros. Ela está imapciente, perdida em desejo e desespero. Está na hora de avançar. Voltam o Violino e o accordeon.

Paixão

Num momento de puro exibicionismo, puxa para si todas as atenções. Usando da fina arte feminina de confundir os sentidos, ela busca nele a fatal atração. Pernas abertas, passos rápidos, cabelos esvoaçantes. Despida de suas Firulas, seus valiosos presentes a ele, ela parece nua por inteiro. Percebendo o sinal, é hora de presenteá-la com o que tanto quer. Mais devagar somente que o reflexo da orquestra, agarra seus braços, e entre solavancos de andamento que marcam provocações e separações, o momento mais intenso. Debaixo da agora pura luz roxa, e com toda a maestria do dançarino exemplar, ela a toma nos braços e a rodopia em si, controlando o passo em sua totalidade. Culminando finalmente num arremesso vertical, capaz de fazer até o mais impenetrável espectador afligir-se, ela volta a seus braços, completamente dominada. Imperceptivelmente, a orquestra principia uma queda de andamento.

Traição

Concluída sua missão, ensaia com displicência alguns Trotes. Conduzida por seu amante, deseja que o memento dure para sempre. Ele, indiferente e inflexível, desvia ocasionalmente o olhar, para desespero dela. Não imaginando a vida sem tal homem, ela prefere não viver a realidade. Uma pausa generalizada, uma Caída. Nada como morrer por amor, e viver nele sua própria eternidade. Sob os olhos indiferentes da orquestra, somem sob a decadente luz da pista. Fine

Cabaret #1 - A primeira vez a gente nunca esquece...

Direto do pau, pessoas. Comam primeiro, matem depois.

Porque eu descobri que Vidas Secas já existia

“Além, muito além daquela serra, que ainda abriga a maior jabuticabeira de toda São Sebastião do Rio de Janeiro, nasceu Nessinha, filha de Lílian Coxão e Artista Desconhecido. Nessinha, a loira dos lábios de Mel, que tinha os cabelos mais longos que a saia da dona Carmosina no Bloco da Sassarandagem lá do Moura. A rapadura de Marilly não era mais doce que seu perfume, nem a pitanga do mato mais vermelha que suas unhas.

Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me... You look so sweet and innocent, how could it be?”



“Você não acha bonita?”
“Não.”

É como estar no lugar certo na hora errada, diria ele, se a situação fosse tão cômica quanto trágica. Desviando o olhar da foto, a garota olhou pra ele com o desprezo e a incredulidade de quem nunca experimentara um não como resposta. Sabia agradar um homem descartável, tirar dele até a última gota de razão e fazê-lo balbuciar tantos ‘sim’ quantos fossem úteis a ela. Naturalmente, qualquer esporte cansa, mas nunca findavam os jogadores. No entanto, lá estava ele: baixo, um tanto gordinho, uma cara redonda, mas com aqueles malditos olhos de duas cores. Não contente, insistiu:

“Mas por que isso?”
“Nãopossotoutrabalhando”

Talvez ele nunca tenha parado pra pedir desculpas a ela. Talvez ele tenha demorado um bocado de tempo pra perceber que ele balbuciou tão rápido e nervoso que não teve tempo de pensar na besteira que disse, que não estava trabalhando, que era somente novo demais e não entendia nada, e levou muito mais tempo pra perceber o quão babaca ele tinha sido aquele dia.
No fundo no fundo, não importava naquela hora. Machucada por dentro, ela recebeu seu adeus, e o deixou sair pelo corredor estreito em direção à rua. Naquela noite, não dormiu. Havia algo de diferente naquele garoto, um tipo de virgindade estúpida bem diferente do padrão de vida dela, uma cara de pivete feio que acabara de recusar a garota mais desejada da cidade. Na noite seguinte, tudo voltou ao normal. E assim tem sido desde que se ouve falar desse moleque, que ainda aparece vez ou outra, não a trabalho, mas com a desculpa de ouvir uma bela canção e repousar no colo da garota da velha foto.

Nerd Apaixonado

Pseudo-Poema do Nerd apaixonado pra livrar vocês da abstinência dos meus textos
Eu li uma frase de um poema mó nada a ver num site que era mó nerdzinha assim, e aí eu decidi fazer esse.
Gente, ficou tão bonitinho, deixa esse mesmo pra vocês não ficarem sentindo falta.


Garota, eu nunca fui bom em fazer isso,
Então eu vou fazer do jeito que eu mais sei,
De um jeito racional,
Sobretudo passional,
Trazendo minha espera que um dia eu serei
Quem sabe de algum jeito,
Se eu fizer direito,
O cara que vai provar do teu feitiço.

Não tenho mais parábolas de segurança,
Que me guardem a minha trajetória
Retilínea, curvilínea,
Quando me aplicas a força giratória
Por vezes compulsória
Que me faz sair da minha linha
Uniforme, horária, harmônica.

Desse lapso sem derivação, numa entrega integral
Cacófana, por sinal,
Mas nunca saturnal
Que não me dou por esses excessos,
que não há pra mim absinto,
Senão saber que é por você
O Torpor que ora sinto
Sem poder equacionar, sem saber quantificar
As raízes tão complexas desse meu problema.

Mas parece que me falta energia
Pro pulo de agonia que vai causar nossa reação
Talvez explosiva
Talvez radioativa
Com produtos duvidosos e às vezes inesperados
Com cálculos disordenados,
Desequilibrados,
e com determinantes indeterminados
Por Chio, Laplace ou Vandermonde.

Porque acima de tudo, por trás dessas lentes
Que desdobram movimentos, infelxíveis,
Em componentes periplanares,
Aziplanares,
Ou aplanares,
Existe um olhar que, além do poligônica,
Enxerga com tato e admiração
Toda minúcia das suas curvas,
Que as rende de todo turvas
Por uma visão tão bela e orgânica

Mas não me refiro a água, carbono e Amônia
Quem dera assim fôssemos, na vida real,
Um punhado de aminoácidos hidratados
Apolares e globulosos,
Fluidos e helicosos,
Porque assim eu teria chance,
De, em meio a uma replicação
Ou talvez uma singela circulação
Detrás de uma matriz amorfa contemplar-lhe, de relance
Ou talvez – quanta pretensão –
Ligar-me ou algomerar-me
Por dentro de uma vil célula a nos fagocitar

Não, eu estou falando daquele frio na barriga
Que não há joules que me meçam
Nem balanças que me normalizem quando passa à minha mente
(ou à minha frente)
Rápida, sorrateirmante,
Às vezes inconsciente,
A imagem do seu rosto tão incógnito,
E do desvio-padrão de todas as minhas variáveis,
Que só por um milagre newtoniano
Ou talvez, bastasse ser freudiano,
Ou com logaritmo neuperiano,
Nosso gráfico seria crescente e nossa função, real.

E se, ainda assim, dois terços do meu corpo são água
Só de te ver passar já me cai á metade:
Fico babando,
Às vezes suando,
Esperando o dia em que eu vou criar coragem
Pra te declarar,
Sem balbuciar,

Que o que eu sinto por você supera a escala dos quilotons
Mais reativo que urânio enriquecido
É mais quente que uma supernova
Vale mais que provar a hipótese de riemann

Nunca vai decair em meias-vidas picominúsculas
Que é mais intenso que um fóton aquecido,
De um jeito que até Einstein reprova
É mais puro que prata hidrolisada e mais valioso que ouro maciço.

Mais alvo que luz solar,
E ainda assim, tão belo,
Tão belo,
Mas tão belo,
Que me fez capaz de escrever um poema pra você.

Mea Culpa

Carece de explicações? Um monte.
Vou acabar tirando isso daqui.
Mas a curto prazo, o efeito é bom.

Confesso que errei, e por isso eu peço perdão.
Confesso que demorei pra perceber, e por isso também peço perdão
Confesso que pensei por alguns instantes
Que era a coisa certa a fazer
E acabei por fazer por muito tempo a coisa errada
E por isso, peço perdão.

Confesso que deixei por muito tempo
Meus amigos e amigas, íntimos e íntimas
Chateados, disparando palavras de consolo e sofrendo a minha dor
Uma dor que deveras não sofria
Mas que pensava sofrer, e sofria
Por não poder pensar na dor
E por isso, peço perdão.

Confesso, também, que muitas vezes
Em troca de tentar ser feliz de novo,
Ou de tentar sentir um frio na barriga novamente,
Eu me deixei levar por uma lembrança infantil
Ridícula e estúpida, e até para os meus queridos, confusa,
Que me amargava a memória
E me fazia triste em doses homeopáticas
Ao mesmo tempo que a eles também consumia
Com o ardor negro
Que me amarga mais no presente pensar no passado
Que no passado pensar nos anos detrás
E principalmente por isso é que eu peço perdão

Porque há arrependimentos na vida que tentamos esconder, omitir
Ou às vezes encobrir num manto de mentiras mal-articuladas,
Só pra perceber, uma hora ou outra,
Que estamos sendo novamente infantis,
Ridículos,
Inconscientes,
Amargos,
E percebemos que é a hora certa de pedir perdão.

E talvez eu tenha hoje me livrado dessa reminiscência;
Dessa tentativa de tentar provar pra mim mesmo, dia após dia,
Que não existe outra chance pras crianças tolas de coração,
Ou fracas de alma,
Ou pobres de espírito,
Ou tão pequenas a ponto de ter que extravasar sua desonra
Humilhantemente por cima de outros seus,
Para que possam dar a volta por cima.
E é justamente por ter sido tão bestial por mais de um ano a fio
Que eu estou tentando pedir perdão hoje.


Porque, além de extremamente melancólico,
É às vezes necessário um texto desses.


Para que exista um retorno àqueles que acabam por trazer um retorno
Àqueles que tentaram ajudar e conseguiram,
Esse é meu ato de contrição,
Estou livre dessa praga. 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Aula de Termodinâmica Estatística


ou
um Excerto sobre QF636
ou
História sem Amor com Final Triste
mas certamente não deixa de ser
uma profunda homenagem ao melhor texto de Noa Capelas

-

Era uma vez um conjunto de partículas, usualmente referenciado pelos professores pelo nome G.

O caótico conjunto de partículas G, embora detivesse razoável compreensão do mundo, vivia sua curta existência de forma imprevisível e inconsequente. Convinha a G que vivesse com retidão, tal qual outros aglomerados particulares de seu universo, mas ele ignorava os avisos dos outros conjuntos de partículas e translacionava sem se importar com a exterminação.

Vendo isso, o nobre senhor das esferas – guardião da ordem universal –, que nutria por G um carinho incomum, decidiu, por bem, definir um conjunto de estados J que pusesse G na linha.

Pôs seu vasto conjunto de mãos a trabalhar e criou uma obra de arte que batizou de J. O conjunto J era tão perfeito quanto o lorde se permitia criar. Cada um dos seus estados tinha a medida certa, e cada um deles simbolizava um aspecto ao qual G certamente iria se prender irreversivelmente. Satisfeito com o conjunto J, o poderoso arquiteto decidiu pôr em ação seu plano e amarrar o conjunto de partículas G aos estados J.

Uma vez que pousou os olhos sobre a sublime beleza de J, imediatamente G foi acometido de um desejo profundo de ocupar J de várias formas.


G passava os picossegundos vibrando, rodopiando e saltitando, só de imaginar todas as maneiras como era compatível com J. J parecia ter sido feito sob medida para G.

E como G romantizava os momentos que passava se aventurando por entre J, entrelaçado aos níveis mais prazerosos daquela incrível distribuição!

Depois de muito fantasiar, G decidiu que queria se dedicar a J sem exceção, de forma igual, indistinguível entre todas as formas possíveis. G queria se distribuir, sem negligenciar absolutamente nenhuma porção de J que fosse, deixando o mesmo número de partículas em cada estado.

No entanto, invejoso da felicidade instantânea de G, o juiz supremo olhou com desprezo para sua recém-criada obra J, e decidiu que tornaria a ocupação de J por G extremamente complexa.


G, que se julgava infinitamente energético, sentiu pela primeira vez na vida o peso do cansaço, enquanto sua força era limitada pelo determinístico criador.


O lorde mensurou atentamente a capacidade de G de atender a J, e fez com que os aspectos mais profundos e sensacionais de J fossem inacessíveis para alguém com os recursos e com a energia de G.

Não importa o quanto G se esforçasse, jamais alcançava as porções mais incríveis de J. Quando, por um átimo, G conseguia popular, de forma quase acidental, um surpreendente novo nível de J, era por pouquíssimos instantes, e o feito passava quase despercebido.


Com o tempo, G foi perdendo suas energias, e só restaram a G forças suficientes pra se concentrar nos níveis mais baixos de J, onde G descobriu desprezo, tristeza e abandono. G passou a querer de desassociar de J, não parecia mais correto que estivessem juntos, se qualquer agrupamento de G causasse apenas desacordos entre G e J.

Um dia, G e J discutiram feio. J endureceu seu coração e G esgotou todas as suas forças. Então, J pediu que G saísse de sua vida. Não aguentava mais G tentando populá-la com sua força tão insignificante. G foi tomado de uma raiva súbita, e se inflamou de tal forma que forçosamente rompeu sua ligação com J.

Sem ter compreendido o processo da irreversível separação, obsevava J se distanciar com lágrimas nos olhos. Derrotado, sob o pesado olhar do poderoso senhor do tempo, reuniu as poucas forças que lhe restavam e entrou em repouso.


No zero absoluto. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Projeto Azeredo: Contra Nossa Querida Web

Esse texto novo é reflexivo. Polêmico. Grande. Uma interrupção da minha lista de desabafos/consultas psicológicas/brizas, que vai tratar de um assunto que, juro, vai interessar a vocês. Estou mostrando meu ponto de vista, e disponibilizando o projeto na íntegra, para que vocês possam tirar suas próprias conclusões. Contei, para redigi-lo, com um trecho retirado dos blogs de Sérgio Amadeu e Pedro Dória, outro do “Jornal de Debates”, um canal do provedor IG, outro de um site muito bom, o softwarelivre.org. Fique bem claro que eu não sou jornalista ou crítico, mas juro por Deus que eu sei do que estou falando. E os caras que fizeram os textos citados, também sabiam. Eu já vou avisando aos desavisados que eu sou tendencioso, MAS NÂO SOU COMUNISTA, por Deus! Embora eu tenha optado por escrevê-lo usando uma linguagem bem descontraída, ele deve ser levado a sério, e muito.Leiam com cautela e com a mente aberta, por favor. Com carinho, eu.

"Foram anos de crença,esses anos rebeldes. Acreditava-se no homem e no mundo, no marxismo e na psicanálise, na política e na moral, e tinha-se fé na Revolução que ia mudar o país, a Terra e a humanidade. Foram anos generosos. Por isso, revivê-los hoje é quase uma obrigação,além de necessidade histórica."

Zuenir Ventura, sobre os anos 60 e 70 no Brasil.
Concordado, Sr. Zuenir.... porém, acredito que escolhemos o aspecto errado para começar a reviver........
Imagine-se em 2010. No exato momento em que você está lendo isso, está cometendo um crime passível de pena carcerária, condenável em nome da Lei, de acordo com a intrerpretação das substituições e adições no Código Penal e Militar propostas por um novo projeto aprovado há anos, do qual provavelmente você não tinha ciência. Até agora.

Com elaboração datada de 2007 e aprovação pela CCJS (Comissão de Constituição e Justiça) em Julho desse ano de 2008, o Projeto de Lei do Senador Azeredo(arquivo em PDF), sob o pretexto de acabar com a recente – e crescente – onda de crimes virtuais, criou uma série de normas a serem adicionadas ao Código Penal, a fim de atualizar leis desde 1960 até 1996, e adequá-las aos tempos modernos. Até aí, é uma grande notícia, se não fosse pelo fato do Senador ter sido muito infeliz na escolha dos problemas, sua análise e apresentação de possíveis soluções para ele.
Vamos começar analisando um trecho bastante polêmico, só pra aquecer, logo no começo do projeto: Capítulo VI-A, artigos 154-A, 154-B e 154-C. Vamos começar a analisar onde isso nos toca. Você utiliza algum compartilhador de arquivos P2P? Talvez um dos mais conhecidos, como o Kazaa, o eMule, ou o iMesh? Então, pois é... acontece que não importa O PORQUE do uso, ele está agora proibido. Aliás, existe o diabólico e malévolo YouTube: um site onde os infratores costumam publicar conteúdo audiovisual sem licensa. Mwahaha. Já baixou um arquivo via BitTorrent? Melhor não o fazer, é proibido. E nem pense em sair por aí com um mp3 ou mp4 carregadinho de músicas e vídeos, sem antes olhar a parte chamada de “Dispositivo de Comunicação” do Artigo 154-C. Além disso, pode jogar fora sua Placa de Captura de TV/Rádio. Não se pode gravar mais nada da TV ou do rádio, pois todos sabem que são meios restritos de comunicação. Falando nisso, joga fora o cassete também, só pra impedir que você caia na tentação de gravar alguma coisa. Não é difícil pensar em várias maneiras de suprimir seus direitos, de acordo com a interpretação do parágrafo. Você mesmo pode imaginar alguma aplicação não mencionada aqui.
Agora, se você possui um Blog, tome cuidado ao publicar imagens da Web, seja extremamente delicado ao fazer citações, e JAMAIS publique algum dado pessoal, como e-mail, nome ou até seu gosto pessoal, pois, como você deve saber, o computador carrega e armazena as páginas, e você estará disseminando informação pessoal, e as pessoas estarão armazenando e possivelmente difundindo essa informação. Percebe onde estamos chegando? Que tipo de estado policial estamos vendo – ou melhor, não estamos vendo, no caso – ser criado aqui no Brasil? Onde está o princípio de rede mundial e coletiva, no qual é fundamentada a Internet? Assim não dá, meu povo.
Vamos Buscar então outro aspecto, bem lá pro fim do projeto. Artigo 23, o antepenúltimo artigo. Esse é dos grandes. Uma lista de oito obrigações e quatro parágrafos, tudo relativo aos denominados “responsáveis pelo provimento de acesso à Internet”. Reparem nos termos. Em hora nenhuma foi usado o termo “Provedor de Acesso”. Isso porque os órgãos conhecidos como Provedores (IG, Uol, Terra, Globo, Telefonica, blá, blá, blá, no more merchandisinhg...) representam uma parcela irrisória desses responsáveis. Além de dificultar o acesso, desincentivar a Inclusão Digital e gerar custos de logging dos provedores conhecidos, que vão ter que monitorar cada passo da cada usuário, isso vai gerar um custo enorme principalmente dentro das empresas que, por menores que sejam, devem registrar cada passo até do acesso interno de seus funcionários (cliente-cliente e cliente-servidor), e do tráfego de dados entre eles. Além disso, ela cria o chamado “Provedor Delator”, uma expressão roubada que traduz completamente o que está sendo criado aqui. Ele será obrigado a registrar todas as suas navegações e manter esse registro por pelo menos três anos, e entregar sigilosamente essas informações a um órgão Público com autorização judicial para ter acesso a elas. Para mim, pelo menos, trata-se de um absurdo. O Senador, ainda não satisfeito, cria uma rígida regulamentação em cima de Lan Houses, Cibercafés e – pasmem – terminais públicos de Acesso Grátis, exigindo uma série de informações e uma vigilância quase abusiva sobre os usuários. Busque no Google, no Código Penal, algumas considerações sobre a obrigação de uma pessoa criar provas contra si mesma. Vocês provavelmente entenderão meu ponto.
Temos um sério problema aí. Primeiramente, e eu diria obviamente, isso NÃO vai acabar com a ação dos Crackers. Crackers não vão deixar de invadir redes virtuais só porque agora existe uma lei que endurece a pena pra cima deles. Crackers têm ferramentas para impedir o registro de seus acessos pelos provedores. Além disso, com a quantidade de processos julgados diariamente, não só haveria aumento em número de processos, quanto tempo não iria demorar buscar uma prova de acesso supostamente ilegal num Banco de Dados de um provedor, dada a Burocracia à qual somos submetidos? Aí temos também o problema envolvido na investigação, pois deve-se provar a existência de tal conteúdo, ainda nos descritos “Dispositivos de Comunicação”. Oh God, isso parece complicado. Complicado e ineficiente. O senador Azeredo parece estar tentando combater um problema que ele não conhece, passando a imagem de uma pessoa que não faz idéia de com o que está lidando. Ele endurece demais a legislação em pontos desnecessários, esquece de cobrir muitos pontos, e termina com um projeto sem nenhuma eficiência. Questionado sobre suas proposições, o senador afirma estar sendo vítima de má-fé, e que essas interpretações de sua lei são equivocadas e precipitadas. Eu sugeriria menos papo e mais alteração.
O Projeto, tendo sido aprovado pela CCJS, será votado no plenário do Senado. Se for aprovado, segue à Câmara dos Deputados, passa por algumas comissões e terá de ser votado em plenário novamente. Graças à justiça Brasileira, é um longo trâmite. Tempo o suficiente para derrubar uma lei ruim.
O Texto a seguir foi retirado do domínio petitiononline.com, onde há um Abaixo-Assinado a ser encaminhado ao Plenário, contra a aprovação do projeto.
“Internet ampliou de forma inédita a comunicação humana, permitindo um avanço planetário na maneira de produzir, distribuir e consumir conhecimento, seja ele escrito, imagético ou sonoro. Construída colaborativamente, a rede é uma das maiores expressões da diversidade cultural e da criatividade social do século XX. Descentralizada, a Internet baseia-se na interatividade e na possibilidade de todos tornarem-se produtores e não apenas consumidores de informação, como impera ainda na era das mídias de massa. Na Internet, a liberdade de criação de conteúdos alimenta, e é alimentada, pela liberdade de criação de novos formatos midiáticos, de novos programas, de novas tecnologias, de novas redes sociais. A liberdade é a base da criação do conhecimento. E ela está na base do desenvolvimento e da sobrevivência da Internet.
(...)
O uso dos computadores e das redes são hoje incontornáveis, oferecendo oportunidades de trabalho, de educação e de lazer a milhares de brasileiros. Vejam o impacto das redes sociais, dos software livres, do e-mail, da Web, dos fóruns de discussão, dos telefones celulares cada vez mais integrados à Internet. O que vemos na rede é, efetivamente, troca, colaboração, sociabilidade, produção de informação, ebulição cultural. A Internet requalificou as práticas colaborativas, reunificou as artes e as ciências, superando uma divisão erguida no mundo mecânico da era industrial. A Internet representa, ainda que sempre em potência, a mais nova expressão da liberdade humana.
(...)
O conhecimento só se dá de forma coletiva e compartilhada. Todo conhecimento se produz coletivamente: estimulado pelos livros que lemos, pelas palestras que assistimos, pelas idéias que nos foram dadas por nossos professores e amigos... Como podemos criar algo que não tenha, de uma forma ou de outra, surgido ou sido transferido por algum "dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular"?
Defendemos a liberdade, a inteligência e a troca livre e responsável. Não defendemos o plágio, a cópia indevida ou o roubo de obras. Defendemos a necessidade de garantir a liberdade de troca, o crescimento da criatividade e a expansão do conhecimento no Brasil. Experiências com Software Livres e Creative Commons já demonstraram que isso é possível. Devemos estimular a colaboração e enriquecimento cultural, não o plágio, o roubo e a cópia improdutiva e estagnante. E a Internet é um importante instrumento nesse sentido. Mas esse projeto coloca tudo no mesmo saco. Uso criativo, com respeito ao outro, passa, na Internet, a ser considerado crime. Projetos como esses prestam um desserviço à sociedade e à cultura brasileiras, travam o desenvolvimento humano e colocam o país definitivamente para debaixo do tapete da história da sociedade da informação no século XXI.”
Mas tudo bem, caros leitores. Os donos de Lan Houses, Cibercafés, os profissionais de rede e blogueiros sempre podem abrir farmácias e viver de Viagra. Aliás, vende-se muto Viagra no Brasil. Não é à toa que isso acontece... ser brasileiro às vezes é broxante. Bless your hearts.


P.S.:

Para Mel, Bina e muitos outros que provavelmente fazem a mesma pergunta

A minha proposta é simples: primeiro, vetar o projeto. Segundo, não fazer mais nada. Estamos muito bem do jeito que estamos. Enquanto esses que o projeto de lei cita como  prejudicados (texto na íntegra no link) não se mobilizam, quem é essa excelência pra tomar as dores deles e achar que isso é necessário? Eu acredito no copyright, mas também acredito que a violação é, até certo ponto, benéfica para o autor, mas essa discussão é para depois.