sexta-feira, 19 de maio de 2017

Cabaret #1 - A primeira vez a gente nunca esquece...

Direto do pau, pessoas. Comam primeiro, matem depois.

Porque eu descobri que Vidas Secas já existia

“Além, muito além daquela serra, que ainda abriga a maior jabuticabeira de toda São Sebastião do Rio de Janeiro, nasceu Nessinha, filha de Lílian Coxão e Artista Desconhecido. Nessinha, a loira dos lábios de Mel, que tinha os cabelos mais longos que a saia da dona Carmosina no Bloco da Sassarandagem lá do Moura. A rapadura de Marilly não era mais doce que seu perfume, nem a pitanga do mato mais vermelha que suas unhas.

Hey, Mr. Tambourine Man, play a song for me... You look so sweet and innocent, how could it be?”



“Você não acha bonita?”
“Não.”

É como estar no lugar certo na hora errada, diria ele, se a situação fosse tão cômica quanto trágica. Desviando o olhar da foto, a garota olhou pra ele com o desprezo e a incredulidade de quem nunca experimentara um não como resposta. Sabia agradar um homem descartável, tirar dele até a última gota de razão e fazê-lo balbuciar tantos ‘sim’ quantos fossem úteis a ela. Naturalmente, qualquer esporte cansa, mas nunca findavam os jogadores. No entanto, lá estava ele: baixo, um tanto gordinho, uma cara redonda, mas com aqueles malditos olhos de duas cores. Não contente, insistiu:

“Mas por que isso?”
“Nãopossotoutrabalhando”

Talvez ele nunca tenha parado pra pedir desculpas a ela. Talvez ele tenha demorado um bocado de tempo pra perceber que ele balbuciou tão rápido e nervoso que não teve tempo de pensar na besteira que disse, que não estava trabalhando, que era somente novo demais e não entendia nada, e levou muito mais tempo pra perceber o quão babaca ele tinha sido aquele dia.
No fundo no fundo, não importava naquela hora. Machucada por dentro, ela recebeu seu adeus, e o deixou sair pelo corredor estreito em direção à rua. Naquela noite, não dormiu. Havia algo de diferente naquele garoto, um tipo de virgindade estúpida bem diferente do padrão de vida dela, uma cara de pivete feio que acabara de recusar a garota mais desejada da cidade. Na noite seguinte, tudo voltou ao normal. E assim tem sido desde que se ouve falar desse moleque, que ainda aparece vez ou outra, não a trabalho, mas com a desculpa de ouvir uma bela canção e repousar no colo da garota da velha foto.

2 comentários:

Bruno Capelas disse...

Essa história te ama?!
Não!
O que ela é então?!

Putz , sei lá. Mostra isso pro Tomislav. XD

Bina disse...

Só pra reiterar, ficou bem foda, coisas como "A rapadura de Marilly não era mais doce que seu perfume" são impagaveis!!